domingo, 7 de setembro de 2008

PARA QUE SERVEM AS ROSAS


Por Luiz Carlos Zanoni, autor da coluna semanal - Carta de Vinhos - no jornal O Estado do Paraná e colaborador da Revista Gula.

Assim como toda casa deve ter um cão feroz, dentes à mostra atrás do portão, todo vinhedo necessita de roseiras. Qual a razão delas? O melhor jeito de não saber é perguntar ao proprietário ou aos funcionários. A grande diversão desse pessoal é tecer histórias absurdas a respeito. Dirão que os espinhos afugentam furtivos visitantes noturnos. Que a mulher plantou para embelezar a paisagem. Que o aroma das flores impregna as uvas, atribuindo fascinante perfume ao vinho. Conversa. A roseira está ali pelo mesmo motivo do cão, para avisar que o perigo se aproxima.

Rosas não latem, mas são suscetíveis às mesmas doenças que afetam as parreiras. Só que, mais delicadas, evidenciam primeiro os sintomas, permitindo a antecipação de medidas protetoras do vinhedo, o patrimônio maior de uma vinícola. Tanques de inox, ou barris de carvalho, trocam-se a qualquer hora. Vinhas não. Começam a produzir aos quatro ou cinco anos de idade, mas só com o tempo irão oferecer frutos com concentração, a matéria prima dos grandes vinhos.

A simples idéia de algum mal no vinhedo deixa doente o produtor, e com sobra de motivos. A destruição das plantações européias pela Filoxera, em fins do século XIX, marcou o DNA da classe com cicatrizes que dificilmente se apagarão. Foi por volta de 1860. Algumas mudas de vinhas, levadas da América para a região do Rhône, abrigavam o inseto quase microscópio denominado Filoxera vastatrix, nunca visto na Europa até então. Ele suga as raízes da planta, que seca e morre em pouco tempo. As videiras americanas resistem porque uma película dura recobre suas raízes, mas esse não é o caso das européias. Em dez anos, o inseto, com sua descomunal capacidade de reprodução, arrasou os vinhedos do continente. Os produtores se desesperavam. Nada do que faziam dava resultados.

Em vários países, a Filoxera não tirou apenas o vinho da mesa. Foi-se o pão, a moradia, a escola, o emprego. A vitivinicultura sustenta a economia de regiões inteiras, e esse puxão de tapete trouxe desemprego e miséria, desatando um caudaloso êxodo de famílias empobrecidas. Cerca de cinco milhões de pessoas – italianos em boa parte - imigraram para países como Estados Unidos, Argentina, Brasil e Chile. A crise foi superada apenas nos anos finais daquele século. O problema veio da América, a solução também: a enxertia das vinhas da Europa em pés de videiras americanas, com suas raízes resistentes. Foi a salvação, até porque as vinhas enxertadas preservam suas características genéticas.

Devastações massivas como a aquela são, hoje, impensáveis. Os avanços científicos criaram um formidável arsenal de armas contra pragas. Mesmo assim, os produtores não dispensam suas rosas - vermelhas, brancas ou amarelas, não importa a cor. Se, pela manhã, os botões não abrem, soam os alarmes. E rosas no vinhedo, além de embelezar e perfumar a paisagem, atiçam visitantes curiosos. “Pra que essas roseiras? Vocês vendem as flores?” Chegou a hora do viticultor se divertir.

6 comentários:

  1. Gostei, muito interressante.
    Bjs para o Luiz
    Amelia

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  2. Ana,
    Se não fosse pela explicação do Zanoni, eu nunca saberia...
    Iria perguntar ao produtor e acreditar em qualquer "lorota" que ele contasse.
    Seu Blog está cada dia melhor!!!
    Continue, ..., e se possível faça como a sua avó e escreva um livro. Você tem talento!!!!
    Fernanda Garcia

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  3. Oi Ana,
    Interessante esta informação que por acaso descori recentemene lendo o livro "A Bodega" de Noah Gordon e que fala exatamente do periodo onde a filoxera atingiu os produtores de vinho. Já leu este livro? Leitura fácil e interessante.
    Beijo
    Telma

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  4. Oi Telma, não li mas com o Luiz tem este livro vou seguir o teu conselho.
    bjs
    Ana

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  5. voce tem de de esplicar o que sao rosas

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  6. Mesa de Ana Teresa2 de maio de 2011 às 16:56

    Rosas são rosas, as flores das roseiras.

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