segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

O BOM VELHINHO




Por Luiz Carlos Zanoni, autor da coluna semanal - Carta de Vinhos - no jornal O Estado do Paraná e colaborador da Revista Gula.


Um Mouton ou Lafite do ano 1982, eis o tipo de bom velhinho que arrancaria dos enófilos um entusiasmado hôu-hôu-hôu na ceia de Natal. Pena que a chance seja zero. Ceias natalinas são uma alegre miscelânea. Tem peru com farofa, cunhado, frutas, pudins, maionese, sogra, crianças em disparada, bacalhau, saladas, o namorado da filha. Um austero e venerável tinto se arriscaria até a ser diluído em água com açúcar por uma tia desavisada.

Quais, então? In vino veritas, in media virtus. Um critério seria dividir o evento em seus vários momentos, ou andamentos como nas sonatas – allegro, andante com spirito, molto allegro – e propor tintos ou brancos médios, porém bem escolhidos.

Na entrada, nenhum problema. Serra Gaúcha ou Champagne, cava ou prosecco, todos aplaudirão espumantes. São ótimos como aperitivo. As bolhas que emergem em vagas incessantes inspiram festa e confraternização, elevam o astral. E esse é o vinho nacional que maior reconhecimento obtém. Os melhores provêm do Vale dos Vinhedos, onde clima e solo se aliam para produzi-los com muita qualidade. Entre as marcas de maior destaque figuram Chandon, Miolo, Vallontano, Aurora, Salton, Valduga e Geisse. Melhor o estilo brut, mas sempre haverá quem aprecie um demi-sec, parceiro também das sobremesas. Deixe uma garrafa no balde de gelo. Alguns continuarão fiéis ao espumante.

Abertos os presentes, feitos os brindes, passa-se à mesa, onde imperam as carnes brancas de aves, de leitão, o bacalhau, os acompanhamentos de sabores adocicados. Um tinto jovem, frutado, aromático, de médio corpo, fará virtuoso enlace. Costumam se dar bem os que vêm de regiões mais frias, com acidez um ponto acima. Espanhóis de Ribera Del Duero e Rioja, portugueses do Dão e Bairrada, chilenos de Casablanca, italianos do Norte (Toscana, Piemonte). Se a preferência for por nacionais, vale conferir os produzidos na campanha gaúcha. Os Malbecs argentinos, macios, sem arestas, amigos de todos e de tudo, são o curinga da harmonização. Mas brancos também se encaixam, até porque anda ótima a oferta de Chardonnays e Alvarinhos.

E chega, finalmente, a preferência da ala feminina, as muitas sobremesas. Hora de sacar um az matador. Qualquer que seja a escolha, colheita tardia ou passito, Sauternes ou Tokay, a popularidade do anfitrião subirá como nunca. Até há pouco tempo desconhecidos, os vinhos de sobremesa estão se tornando muito populares, com lugar cativo à mesa. São soberbos os da região francesa de Sauternes, ou de Tokay, na Hungria. Infelizmente, os preços assustam. Há, entretanto, ótimos vinhos chilenos e argentinos nesse estilo, elaborados pelo sistema de colheita tardia. O Santa Carolina Late Harvest (Chile), e o Don Nicanor Coseja Tardia (Argentina) são bons exemplos.

Ponto final? Depende. Se a turma for animada, um Porto Tawny ou um Madeira manterão acesas as idéias e o papo por essa noite feliz adentro.

Quanto ao bom velhinho, paciência. Fica para outra festa.

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