sábado, 20 de setembro de 2008

OS SUPERFATURADOS





Por Luiz Carlos Zanoni, autor da coluna semanal - Carta de Vinhos - no jornal O Estado do Paraná e colaborador da Revista Gula.


Vira e mexe e a questão do alto preço dos vinhos importados volta à pauta. Diante das reclamações do consumidor, lojas e distribuidoras passam a responsabilidade aos importadores e, estes, aos impostos, à burocracia alfandegária e a um malfeitor invisível, impreciso, mas de cuja existência ninguém duvida, chamado custo Brasil. O assunto é pouco transparente. Exatamente por isso, chama atenção uma pesquisa lançada na Internet pelo enófilo carioca Oscar Daudt, através do site EnoEventos.

Para medir a apetite por lucros de algumas das nossas principais importadoras, ele comparou os preços aqui praticados com os do site Wine Searcher, que engloba catálogos das lojas virtuais dos Estados Unidos. As diferenças nas margens entre as empresas brasileiras surpreendem porque todas pagam os mesmos impostos e têm despesas semelhantes com seguros, fretes e distribuição.

No topo da lista, com o menor diferencial, de 50,4% no cotejo com os valores médios dos Estados Unidos, está a Cellar, importadora de São Paulo; no extremo oposto da classificação, a Terroir, também paulista, com pesadíssimos 437 %. Isso significa que um vinho de 10 dólares nos Estados Unidos custaria 15,04 na Cellar e 53,70 na Terroir. Mas vale notar que, no caso desta última, existem tabelas paralelas, com descontos que reduzem a margem para 282,1%. Ou 38,21 dólares, em se tratando daquele mesmo vinho. O segundo lugar na ponta virtuosa da lista é do supermercado carioca Zona Sul, que faz importações diretas, trabalhando com grandes volumes. O terceiro e o quarto pertencem às importadoras Mistral e Vinci, ligadas ao mesmo grupo empresarial, que fixam seus preços com base no dólar do dia.

Daudt conta que pesquisou treze importadoras, cada uma participando com até dez vinhos na categoria de média para alta, disponíveis em catálogos ou Internet. “Não considerei nenhum vinho produzido nos Estados Unidos, pois queria comparar o custo dos importados nos dois países. Para calcular o preço do mercado americano, fiz a média dos três menores valores encontrados no Wine Searcher, acrescentando 6,5%, equivalentes ao imposto cobrado naquele país, que o site não inclui. Finalmente, considerei o câmbio à taxa de R$ 1,77.” Ele ressalta que, como não usou técnicas estatísticas mais apuradas, a análise reflete apenas o percentual de divergência entre os preços do Brasil e Estados Unidos.

A lista completa: (1) Cellar, 50,4%; (2) Supermercados Zona Sul, 74,7%; (3) Mistral, 111,2%; (4) Vinci, 149,1%; (5) Reloco, 159,8%; (6) Decanter, 170,0%; (7) Grand Cru, 194,9%; (8) World Wine, 209,5%; (9) Zahil, 223,7%; (10) Expand, 235,5% ; (11) Península, 270,2%; (12) Terroir (tabela com descontos), 282,1%; (13) Enoteca Fasano, 290,2%; (14) Terroir (tabela sem descontos), 437,0%.

Qual a receita da Cellar? “Uma estrutura descomplicada, rápida e eficiente no atendimento ao cliente”, responde Amauri de Faria, que acumula na importadora as funções de vendedor número um, responsável pelas compras, diretor financeiro, gerente de marketing, além de proprietário. “Contando comigo, somos, ao todo, quatro pessoas na Cellar, uma empresa leve, que procura não onerar o cliente com custos desnecessários”. Um particular: vem com freqüência a Curitiba, onde possui vários familiares, cultiva antiga amizade com os membros da família Trombini, e, no Bar Palácio, traça um filé grelhado que pontua como “o mais saboroso do País”.

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