quinta-feira, 18 de setembro de 2008
ESTUDO NUTRI-BRASIL – Estudo Multicêntrico do Consumo Alimentar de Pré-escolares
Esta semana participei de um simpósio em Porto Alegre, a convite da Danone, no qual foram apresentados os dados deste estudo, e foram discutidas possíveis estratégias sobre o assunto.
Esta pesquisa do consumo alimentar em pré-escolares que freqüentam creches ou escolas por período integral foi realizada em 2007 em 9 cidades brasileiras, englobando todas as regiões do território nacional. Houve participação de pesquisadores de 12 instituições de ensino e pesquisa, sob a coordenação do Dr. Mauro Fisberg, pediatra, nutrólogo e professor da UNIFESP, em parceria com a Danone. Atualmente está em fase de análise para publicação no próximo ano.
Mais de 3000 crianças entre 2 e 6 anos que freqüentam creches ou escolas em período integral, públicas e privadas foram estudadas. O consumo alimentar destas crianças foi avaliado através da pesagem dos alimentos oferecidos nas creches e do que restava no prato ou copo. Nas residências, a avaliação foi realizada através de anotações feitas pelos responsáveis. Foi um trabalho muito detalhado, pois analisou além da quantidade alimentar, a qualidade dos alimentos através da análise dos macro e micro-nutrientes de todos os alimentos (macro-nutrientes são as proteínas, carboidratos e gorduras, e micro-nutrientes as vitaminas e minerais). Para isto, muitas receitas têm que ser decifradas e interpretadas. Os preparos dos alimentos variam muito dependendo da região do Brasil.
O estudo mostrou que a ingestão calórica total diária era adequada ou superior às necessidades para a idade. Um dos problemas encontrado foi que 50% das calorias eram consumidas em domicilio através de alimentos com excesso de gorduras e sal, ou alimentos lácteos que também são ricos em lipídios e sódio. Teoricamente, estas crianças fazem no mínimo 4 refeições por dia na creche onde deveria ocorrer o maior consumo calórico. Quase a metade dos alimentos oferecidos às crianças não era ingerido. O consumo calórico em domicílio, noturno, foi muito grande e inadequado, deixando as crianças sem apetite durante o dia.
Os resultados são preocupantes sendo que 28% das crianças estão acima do peso e 6% já são obesas. O sódio, sal dos alimentos, e presente no leite de vaca em nível elevado, é ingerido em quantidade superior à quantidade máxima tolerável por 75% das crianças. A alimentação das crianças entre 4 e 6 anos é deficiente em vitaminas D e E, e Cálcio.
Estes resultados demonstram que desde a faixa etária pré-escolar, já existe um risco aumentado para obesidade e doenças crônicas como hipertensão arterial, diabetes e osteoporose. Uma alimentação mais adequada pode diminuir estes riscos.
Resultados mais detalhados:
1- Grande prevalência do excesso de peso em crianças menores de 5 anos de acordo com a classificação da OMS:
EUTROFIA ----------------------70%
SOBREPESO ---------------------22%
OBESIDADE ---------------------6%
RISCO DE DESNUTRIÇÃO ------1%
(Prevalência quer dizer a proporção de casos existentes numa determinada população, e Eutrofia o peso adequado para a altura e para a idade)
2- A distribuição dos macro-nutrientes está dentro dos limites recomendados pela OMS, mas a quantidade calórica proveniente dos carboidratos está no limite inferior, enquanto a das proteínas e lipídios, no limite superior.
Recomendação OMS 2003 /Valores encontrados no estudo
Carboidratos-------55 -75%----------------55,67%
Proteínas----------10 – 15%---------------15,37%
Lipídios-----------15 – 30%---------------27,83%
3- A alimentação de cerca de 30% das crianças entre 4 e 6 anos está deficiente em vitamina E.
4- Apesar da anemia ainda estar presente em cerca de 40 a 55% das crianças brasileiras abaixo de 5 anos, o estudo não mostrou deficiência de ferro. Provavelmente a biodisponibilidade do ferro (quanto deste micro-nutriente é aproveitado pelo organismo) presente na alimentação das crianças não esteja adequada. Ou outros fatores podem estar interferindo na absorção do ferro.
5- Metade das crianças acima de 4 anos apresenta risco nutricional para o consumo de Cálcio e vitamina D.
6- O consumo de sódio mostrou-se muito elevado, sendo que em 75% das crianças está acima da recomendação máxima permitida para a idade (UL – DRIs 2005), e em 98 % delas acima da quantidade adequada (AI – DRIs 2005).
Abreviações:
UNIFESP – Universidade Federal de São Paulo
OMS – Organização Mundial de Saúde
DRIs – Dietary Reference Intakes(tabelas de referência nutricional americana)
UL – Upper level
AI – Adequate level
Assinar:
Postar comentários (Atom)
4 comentários:
Muito interessante. Sabe onde posso conseguir este estudo?
Andreia,
Este estudo ainda não foi publicado. Os dados obtive através de um folheto feito pela Danone e no simpósio que participei. Me mande um email, que tentarei scanear o folheto para vc.
abraços
Ana Teresa
Oi Ana. Sou aluno do curso de Nutrição da UFRN e meu tcc é sobre a alimentação em creches. Se você podesse me mandar esse material ficaria muito agradecida. Meu email: chelle_costa@hotmail.com
Abraço
Boa tarde, Ana.
Parabéns pelo site. Gostaria de receber o material eletronicamente também. Estou estudando alguns trabalhos de ingestão de cálcio e conhecer a opnião da Danone seria muito interessante.
Você mandaria para meu e-mail? Muito obrigado e parabéns pelo trabalho.
Hugo.
hmonteiromagalhaes@yahoo.com.br
Postar um comentário