sábado, 23 de agosto de 2008

TANNAT NO BARREADO



Por Luiz Carlos Zanoni autor da coluna semanal - Carta de Vinhos - no jornal O Estado do Paraná e colaborador da Revista Gula


Templo do mais tradicional prato da culinária paranaense, o Restaurante Buganville, em Antonina, nem leva a carta de vinhos ao cliente, tão raros os pedidos. Pelas mesas, cerveja, cachaça da terra e até Coca-Cola dominam as preferências para acompanhar o famoso barreado da casa. E não longe dali, no Armazém Romanus da vizinha Morretes, também especialista na matéria, o cenário se repete. Mas – cruzes! – sofre mesmo o barreado de tamanha alergia ao vinho? É improvável.

Das bebidas, o vinho é a que melhor combina com alimentos, ele alimento também. Verdade que existem casamentos mais felizes, ou menos. Nas regiões vinícolas, a regra número um é pedir os do próprio lugar. Sempre dá certo, e não por acaso. Como o vinho se destina principalmente à mesa, acaba ocorrendo, ao longo do tempo, um lento processo de ajuste, a seleção das variedades de uvas, comidas e formas de preparo convergindo para uma harmonização de aromas e sabores. Boeuf bourguignone com Pinot Noir, leitãozinho da Bairrada com tintos da Baga, pasta ao sugo com Dolcetto: tudo tem seu porquê.

Pena que – como fazer vinho a sério esteja fora das possibilidades – essas parcerias entre nós não aconteçam ao natural. Mas pratos assemelhados ao barreado são amigos do vinho em muitos lugares. Eles têm em comum o sabor forte, generoso, com aromas carregados que exaltam a mescla de temperos.

As receitas de barreado variam, mas a base é uma só. Dona Anne, do Buganville, segue a fórmula tradicional: carne de músculo, louro, cominho, cebola, alho, fartas porções de bacon defumado e um longo cozimento em panelões de barro lacrados com pirão de farinha de mandioca. Já no Romanus a versão é light. Usam acém ou patinho, carnes magras, e são comedidos no bacon.

Um grupo de apreciadores de vinhos e da iguaria paranaense decidiu, recentemente, testar combinações. No barreado, optou pela mão leve nas calorias, sem comprometer, contudo, o caráter suculento e untuoso do prato. Nos copos, três tintos. O português Quinta do Cotto 2000, o argentino Pulenta Malbec 2001 e o francês Château Bouscassé 1995, da região do Madiran. A preferência foi claramente pelo francês (R$ 90,00), produzido à base da uva Tannat, matriz de vinhos de altíssima concentração e estrutura.

Nenhuma surpresa. A riqueza aromática e a textura macia e algo rústica do barreado, pedem um vinho consistente e tânico, o que é uma boa notícia. Embora originária do Sul da França, a Tannat tem seu reinado logo ali, na fronteira com o Uruguai, onde proporciona vinhos espessos, volumosos e densos, que nos chegam a preços muito razoáveis, entre 30 e 60 reais. Filgueira, Pisano, Juanico e Castel Pujol são alguns produtores que vale conferir. E faça mais: convoque-os aos santuários do barreado, em Antonina e Morretes. Tanto o Buganville quanto o Armazém Romanus aceitam o vinho do cliente.

5 comentários:

Anônimo disse...

Dentre todos os blogs que andam por aí,
este, minha prima, é o melhor que
vi!
Gostei muito da matéria sobre Tannat no Barreado, que sucita comentar que alguns dos vinhos mais preciosos que já tomei vêm de nosso "piccolo" vizinho Uruguay. Não só o Tannat, que lhe garante destaque no concerto das nações produtoras de vinho, mas alguns Cabernets( que podem ser Sauvignon ou Merlot)ma-ra-vi-lho-sos!
Parabéns pela bela iniciativa.
RRO

Mesa de Ana Teresa disse...

Oi Roberto,
Obrigada pelos elogios, a mim e ao Luiz. Novas colunas sobre vinho virão.
bjs

Anônimo disse...

Não sei se é um heresia, mas tenho horror a este tal de Pinot Noir.
Não entendo de vinhos, apenas gosto de bebe-los e o meu paladar é quem decide se um vinho é bom ou não é bom. Se ele desce bem, sem arranhar e com uma sensação aveludada, acho ótimo, independente de seu preço, raça, cor, religião e origem.
Fui a duas degustações recentemente, ambas apresentadas por um professor da ABS, vinhos da America do Sul e da Espanha, e o tinha um tal de Pinot Noir que era tido com a jóia da coroa...tá certo, me engana que eu gosto....
Grapette é dez vezes melhor, e mais barato.
:-)))
:-))))
Talvez haja um pouco de exagero nesta minha historinha, mas de qualquer modo eu juro que não gostei, e isto em todas as vezes que bebi desta uva.

Mesa de Ana Teresa disse...

Quem entende muito de vinhos é o Luiz, mas vou tentar responder.
Gostar de vinhos é muito pessoal e o gosto vai mudando, ou se aprimorando na medida que a pessoa consome. Nem todo mundo vai gostar dos mesmos vinhos. Os vinhos de Pinot noir bons, são da Borgonha e os bons são excessivamente caros. Quando são bons, são realmente muito bons.Os borgonhas simples não são muito bons. Tb não gosto dos Pinot noir chilenos. Prefiro os cabernet sauvignon. Se vc vier a Curitiba, vamos tomar juntos um bom vinho.bjs
Teresa

Anônimo disse...

Oi Ana Teresa!
Procurando o telefone do Restaurante Buganville encontrei o seu blog - muito legal! Sentimos sua falta nas últimas semanas de novembro passado na Alliance.
Um abraco!!
Bibiana